Estilos de aprendizagem: qual sua relevância?

Objetivando a melhoria da aprendizagem do aluno vale aprofundar na interação entre educador e educando em sala de aula considerando os diferentes estilos de aprendizagem e aplicando as abordagens e estratégias mais adequadas para cada caso. 

O que é Aprendizagem?

Segundo De Aquino (2007), “a aprendizagem refere-se à aquisição cognitiva, física e emocional, e ao processamento de habilidades e conhecimento em diversas profundidades, ou seja, o quanto uma pessoa é capaz de compreender, manipular, aplicar e /ou comunicar esse conhecimento e essas habilidades” (DE AQUINO, 2007, p. 6).  Segundo Illeris (2013), “Qualquer processo que, em organismos vivos, leve a uma mudança permanente em capacidades e que não se deva unicamente ao amadurecimento biológico ou ao envelhecimento” (ILLERIS, 2013, p. 3).

DOMÍNIOS E ESTILOS DE APRENDIZAGEM

 Domínios. Importa primeiro conhecer o conceito de domínio de aprendizagem para depois abordar os estilos de aprendizagem. Bloom (1972) e outros pesquisadores estabeleceram uma divisão didática por domínios para definir a taxonomia dos objetivos de aprendizagem que ajuda no planejamento da aula. A aprendizagem pode se dar em três domínios diferentes, como apresenta De Aquino (2007):

  1. Físico: ligado aos 5 sentidos, visão, audição, tato, paladar e olfato. O ser humano escolhe uma maneira preferencial para coletar informações e para processá-las apesar de usar todos os sentidos para aprender. Por exemplo, nos estilos visual, auditivo e tátil-sinestésico de aprendizagem.
  2. Cognitivo: relacionado a como a pessoa pensa. Embora todos usem o pensamento para aprender, para alguns o processamento da informação coletada pode ser mais físico ou emocional. Uma pessoa com predominância mental no processo de aprendizagem dará ênfases à resolução de problemas, brainstorming e outras atividades cognitivas.
  3. Emocional: refere-se à forma como o indivíduo se sente em termos psicológicos e fisiológicos. Existem fatores internos que influenciam a capacidade de aprender, por exemplo, fome, sede, doença e outros fatores psicológicos internos. Também existem fatores externos, por exemplo, conforto ambiental, temperatura, luminosidade, barulho e fatores psicológicos externos.

Já a qualificação da energia consciencial depende dos padrões de sentimentos, pensamentos e conduta de cada pessoa.

Estilos de aprendizagem. São “as competências pessoais dos aprendizes para processar informação em um ambiente de aprendizado”. Os estilos são um meio pelo qual as pessoas “coletam e selecionam informações para depois processá-las e usam significados, valores, habilidades e estratégias para solucionar problemas, tomar decisões e criar novos significados” (DE AQUINO, 2007, p. 44).

Categorização. Nesse artigo será abordada a categorização dos estilos de aprendizagem desenvolvida por Richard Felder (1988), sendo que existem outros autores que utilizam outras categorizações. Ela foi escolhida porque seu modelo explicativo contribui para a adequação dos estilos de ensino aos estilos de aprendizagem do aluno.

Dimensões. Felder propõe que existem quatro dimensões de estilos de aprendizagem e, também, estilos de ensinar correspondentes. As dimensões, que se referem ao modo como uma informação é tratada no sistema cognitivo, são as seguintes: percepção, recepção, processamento e compreensão.

Estilos. Cada dimensão apresenta dois estilos de aprendizagem conforme a listagem a seguir:

  1. Percepção da informação: intuitivo e sensorial.
  2. Recepção da informação: visual e verbal.
  3. Processamento da informação: ativo e reflexivo.
  4. Compreensão da informação: sequencial e global.

 

Combinação. Uma pessoa pode ter o predomínio de um dos estilos de aprendizagem em cada dimensão apresentada acima. A combinação dos seus estilos, nas diferentes dimensões, resulta na forma como a pessoa aprende.

Percepção. Uma pessoa com estilo intuitivo percebe melhor as informações quando apresentadas na forma de ideias, memórias ou possibilidades, de maneira abstrata. Uma pessoa com estilo sensorial percebe melhor as informações quando apresentadas na forma de algo que pode ser visto, ouvido ou tocado, de maneira concreta.

Recepção. Uma pessoa com estilo visual tende a receber melhor informações apresentadas na forma de ilustrações, gráficos, diagramas ou demonstrações. Já uma pessoa com estilo verbal, recebe melhor informações apresentadas na forma escrita (incluindo a escrita no quadro) ou falada. Existem, ainda, outras pessoas que têm maior facilidade para receber informações que chegam por outros sentidos, como sons não verbais, gosto, toque ou cheiro.

Processamento. Uma pessoa com estilo ativo tende a processar as informações enquanto está fazendo alguma coisa de maneira ativa, se beneficia de uma aula mais participativa. Já o aprendiz reflexivo tende a processar melhor a informação de modo mais introspectivo, mais passivo, precisa de tempo para pensar sobre a informação recebida.

Compreensão. Uma pessoa com estilo sequencial aprende melhor quando o faz um passo de cada vez. Já a pessoa global tende a compreender melhor quando as informações se apresentam em grandes aglomerados interconectados, mostrando a visão de conjunto e as metas, antes de entrar em detalhes.

Estilos de ensinar. Para cada estilo de perceber, receber, processar e compreender uma informação, transformando-a em conhecimento, existe um conjunto mais adequado de características correspondentes para ensinar.

Correspondência. Quem ensina, em geral, define, apresenta, ajuda no processamento e na compreensão de uma informação em seu próprio estilo de aprendizagem. Uma pessoa cujo estilo da recepção da informação seja verbal tenderá a ensinar nesse estilo.

Adequação. Um educando com determinado estilo de aprendizagem terá melhores resultados se o ensino for feito no estilo correspondente. Cabe ao professor atentar para adequar os estilos de ensinar aos estilos de aprendizagem dos seus alunos e não apenas aos seus próprios estilos de aprendizagem (BRAATHEN, 2013).

Favorecimento. As aulas expositivas puras, em geral, favorecem os alunos intuitivos, verbais e sequenciais e não favorecem nem os ativos nem os reflexivos, pois não fornecem atividades e não deixam tempo para pensar, respectivamente. Apresentaremos, a seguir nesse artigo, abordagens alternativas.

Desencontro. Existem algumas consequências, que Braathen (2013) menciona quando existe o desencontro entre os estilos de aprendizagem e os estilos de ensinar, que afetam tanto o professor quanto o aluno. O aluno pode ficar entediado, desatento, agitado na sala de aula, desanimado com o curso ou com ele mesmo. O professor pode ficar defensivo ou hostil, se questionando sobre a própria competência para ensinar.

Diversificação. O ideal será diversificar a aula para atender aos diferentes estilos de aprendizagem dos educandos e, ao mesmo tempo, auxiliar o desenvolvimento de habilidades relacionadas a estilos de aprendizagem não predominantes no aluno.

Informação. Outra estratégia para a melhoria da aprendizagem é ajudar o aluno a identificar e melhor aproveitar o seu estilo de aprendizagem.

Exemplo. A fim de assessorar os professores de Conscienciologia, objetivo principal da autora, é apresentado a seguir um exemplo de aula com tema da Conscienciologia atendendo diferentes estilos de aprendizagem.

Tema da aula: Assistenciologia – Tarefas assistenciais: tares e tacon. 

1. Apresentar objetivos de aprendizagem geral e específicos: mostrar o contexto e relevância do tema e conectá-lo à experiência prévia do aluno (estilo sensorial e global).

Sensorial: gosta de fatos, datas, fenômeno observável e experimentações. Gosta de saber como se aplica o conhecimento na vida real.

Global: precisa da visão geral e das metas da aula, antes do passo a passo, e estabelecer o contexto e relevância unidos à experiência prévia. Gosta de liberdade para pensar alternativas.

2. Mostrar um vídeo ou fazer roleplay de um diálogo sobre 4 tarefas assistenciais, algumas serão tarefa da consolação (tacon) e outras tarefa do esclarecimento (tares). O objetivo é, antes de apresentar a teoria, mostrar um exemplo gráfico do fenômeno que a teoria descreve (estilo sensorial e visual).

Visual: gosta de figuras; diagramas; fluxogramas; linha do tempo; filmes e demonstrações.

Sensorial: gosta de fatos, datas, fenômenos observáveis e experimentações. Gosta de saber como se aplica o conhecimento na vida real.

3. Explicar os tipos de tarefas assistenciais, princípios, teorias passo a passo (estilos sequencial, intuitivo e verbal).

Sequencial:  Constrói entendimento em sequência lógica de passos. Funciona com entendimento parcial da informação. Avança constantemente. Explica facilmente. Bom para pensamento analítico.

Intuitivo: gosta de princípios e teorias. Percebe melhor as informações que se apresentam como ideias, memórias ou possibilidades. Gosta de variedade em experiências de aprendizagem.

Verbal: lembra o que escuta e o que diz. Aprende melhor em debates e explicando os conteúdos aos colegas.

4. Dividir a classe em grupos e perguntar: dessas 4 tarefas quais são tacon e quais são tares. Primeiro fazer individual depois grupal (estilos verbal, ativo, reflexivo).

Verbal: lembra o que escuta e o que diz. Aprende melhor em debates e explicando os conteúdos aos colegas.

Ativos: processa ativamente, fazendo algo físico. Aprende mais na interação com os outros; trabalha bem em grupo.

Reflexivo: precisa tempo para pensar sozinho, trabalha introspectivamente, gosta de trabalhar sozinho ou em pares.

5. Pedir ao grupo relatar exemplos de assistências que cada um realizou no último mês e classificar as mesmas como tacon ou tares, primeiro de maneira individual (reflexivo) e depois grupal (sensorial, intuitivo, verbal, ativo, global) apresentando para todos do grupo.

Reflexivos: precisa de tempo para pensar sozinho, trabalha introspectivamente, gosta de trabalhar sozinho ou em pares.

Sensorial: gosta de fatos, datas, fenômenos observáveis e experimentações. Gosta de saber como se aplica o conhecimento na vida real.

Intuitivo: gosta de princípios e teorias. Percebe melhor as informações que se apresentam como ideias, memórias ou possibilidades. Gosta de variedade em experiências de aprendizagem.

Verbal: lembra o que escuta e o que diz. Aprende melhor em debates e explicando os conteúdos aos colegas.

Ativos: processa ativamente, fazendo algo físico. Aprende mais na interação com os outros; trabalha bem em grupos.

Global: precisa da visão geral e das metas da aula, antes do passo a passo, e estabelecer o contexto e relevância unido à experiência prévia. Gosta de liberdade para pensar alternativas.

6. Pedir aos alunos alternativas sobre as tarefas apresentadas, por exemplo, perguntando: e se o contexto fosse outro?

Global: precisa da visão geral e das metas da aula, antes do passo a passo, e estabelecer o contexto e relevância unido à experiência prévia. Gosta de liberdade para pensar alternativas.

Intuitivo: gosta de princípios e teorias. Percebe melhor as informações que se apresentam como ideias, memórias ou possibilidades. Gosta de variedade em experiências de aprendizagem.

7. Encerrar a aula com o One Minute Paper (BRAATHEN, 2013). Pedir aos alunos para escreverem em uma folha ou responderem verbalmente às perguntas a seguir:

a. Quais foram os principais aprendizados da aula de hoje? (reflexivos).

b. Quais dúvidas permaneceram sobre os temas da aula de hoje? (reflexivos).

Reflexivos: precisa de tempo para pensar sozinho, trabalha introspectivamente, gosta de trabalhar sozinho ou em pares.

8. Propor tarefa para ser resolvida em grupo após a aula (atendendo todos os estilos).

Objetivo. Esse exemplo de aula apresenta diferentes estratégias capazes de contemplar todos os estilos de aprendizagem apresentados até agora.

A seguir, na imagem, um resumo-lembrete:

CONSIDERAÇÕES FINAIS 

Teorias. A aplicação das melhores práticas vindas do conhecimento dos estilos de aprender e ensinar permitem ao educador uma melhor interação com o educando, o que trará resultados significativos para gerar mais aprendizagem.

Leitura da turma. O educador poderá fazer uma leitura da turma para conhecer os educandos e saber sua formação e experiências anteriores. Conhecer as expectativas, se adaptar à diversidade e entender que deverá ter diferentes abordagens.

Avaliação. Aplicar instrumentos de avaliação de estilos de aprendizagem, tanto com ferramentas formais quanto na experiência de interação com eles, é uma opção do professor. Conhecendo o educando poderá adaptar o estilo de ensinar para as preferências e, ao mesmo tempo, preparar o ensino em função de estilos opostos para estimular o desenvolvimento de competências que podem ser fracas nos educandos.

Equilíbrio. Ministrar uma aula show, com recursos inovadores, mas desencontrados com os objetivos de aprendizagem e os estilos dos educandos pode diminuir a eficácia das aulas. Vale investir em atualizar as próprias práticas e estratégias didáticas em geral, sem se conformar em ministrar sempre a mesma aula, a fim de otimizar a interação educador-educando na tarefa de ensino-aprendizagem.

Qualificação. Melhor será o educador manter um ritmo de autoqualificação continuada para atender maior número de consciências aprendentes. A proatividade nesse ponto é imprescindível. “Auteducação: megafundamento evolutivo” (VIEIRA, 2014, p. 588).

Docenciologia. O escultor modela e registra a forma da personalidade humana través do granito da estátua. O professor modela a consciência do aluno através dos registros do conhecimento que transmite. Assim, importa sobretudo a qualificação das matérias estudadas a fim de se manter registros evolutivos, prioritários e cosmoéticos (Cosmoeticologia)” (VIEIRA,2014, p. 1470).

Boas práticas!

Profa. Natalia Fuentes

Voluntária, professora e pesquisadora da Conscienciologia.

REFERÊNCIAS

BLOOM, B. Taxonomia de Objetivos Educacionais-Domínio Cognitivo. Porto Alegre: Ed. Globo, 1972.

BRAATHEN, P. C. Professor: Como ter sucesso no Ensino Superior. Viçosa: Aprenda Fácil, 2013.

DE AQUINO, C. Como aprender: andragogia e as habilidades de aprendizagem. 1ª Ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007.

FELDER, R.; SILVERMAN, L. Learning and Teaching Styles in Engineering Education. Engineering Education. v. 78, s/n, p. 674-681, 1988. Disponível em: http://www.ncsu.edu/felder-public. Acesso em: 01 jul. 2020.

_______; BRENT, R. How students learn, how teachers teach, and what usually goes wrong. Workshop da Universidade de Minnesota. Effective Teaching. 12 p. 2005. Disponível em: http://www.ncsu.edu/felder-public. Acesso em: 01 jul. 2020.

FUENTES, N. Preceptoria Parapedagógica na formação docente conscienciológica. Revista de Parapedagogia, Foz do Iguaçu, p. 3-14, 2018.

FUENTES, N. O processo de Aprendizagem e o Papel do Educador. Revista de Parapedagogia, Foz do Iguaçu, p. 77-99, 2020.

ILLERIS, K. (Org.). Teorias Contemporâneas da Aprendizagem. Porto Alegre: Penso, 2013.

LACRUZ, A. J.; AMERICO, B. L. Influência do Debriefing no Aprendizado em Jogos de Empresas: Um Delineamento Experimental. Brazilian Business Review. Vitória, v. 15, n. 2, p. 192-208, abr, 2018. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S1808-23862018000200192&lng=en&nrm=iso. Acesso em 01 mar.  2020.

VIEIRA, W. Dicionário de Argumentos da Conscienciologia. Foz do Iguaçu, PR: Editares, 2014.

 

A Conscienciologia pesquisa a consciência, eu e você, através de um enfoque abrangente, máximo, de todos os seus instrumentos de manifestação, em todas as dimensões, com todas as suas energias, capacidades e atributos parapsíquicos lúcidos, cosmoéticos, muito além das investigações convencionais das demais ciências modernas. Conscienciologia: Ciência da consciência.

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